terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Valor.

A semana foi cartesiana, o domingo era igualmente, porém cansativo e enfadonho...
Era um dia 05 de fevereiro de 2017.
Era como qualquer dia, como o dia anterior ou como o dia que estava porvir.
O relógio cravava 19:30 horas da noite. Meu sangue fervia, eu estava inquieto em casa,
Andava de um lado para o outro, não sabia o que fazer.

Tomei coragem, digo, tomei dois dedos de cachaça, no verão carioca.
Aquilo desceu rasgando, a inquietude se somou a raiva da cachaça queimando e saí.
Peguei o carro e fui para a Praça XV.
Pronto! Estava decidido. Eu ia para Paquetá!
Mas, o quê eu faria aquela hora da noite em Paquetá? Qual o horário da última barca pra voltar?

E daí? Pensei! Por que isso interessa? Cansei!
A semana toda foi exageradamente marcada, cronometrada. Agora, não seria mais.
Larguei o carro na Praça XV, ainda com o gosto de cachaça na boca.
O gosto não era fel, nem mel. Mas, estava feliz. Satisfeito.
Peguei a barca.

Dormi por meia hora e curei-me dos dois dedos de cachaça que havia tomado.
Vi que tinha 3 horas na ilha, até a saída da última barca de retorno.
Corri para o aluguel de bicicletas, mas estava fechado.
Um senhor, muito educado, do outro lado da rua me viu e ofereceu o camelo.
Aceitei. Disse que faria questão de pagar o aluguel. Ele não aceitou.

Mas, pediu um abraço. Espantei-me. Mas, claro, retribui o gesto de caridade. Abracei-o.
Contudo, minha curiosidade falou mais alto. Indaguei o porquê do braço.
Como se precisasse de um motivo para dar um abraço,
Mas, acostumado com a cidade grande, deixei escapar minha insensibilidade na pergunta.
De imediato, ele me respondeu.

Sua barba, sua camisa alvinegra com esta Estrela Solitária no peito, aqui em Paquetá.
Isso tudo lembra meu filho, finalizou o senhor.
Não tive coragem de perguntar o paradeiro do filho, mas notei esperança e amor naquele olhos.
Possivelmente o filho dele saiu "para o mundo" e não voltou. Quando o senhorzinho surpreendeu.
E, ele disse.

Não sou louco, nem carente, você lembra meu filho e pronto. Pode curtir sua pedalada, finalizou.
Então, observei-o com os olhos de admiração e disse.
Gosto de sua sensibilidade com sua franqueza, quiçá, pra muitos, frieza. Também sou assim.
Ele sorriu com admiração. Assenti com o movimento da cabeça e ganhei a rua.
O vento assobiava em meu ouvido. Era isso que queria, isso que me faltava.

Pedalei por toda ilha, ora acelerava, ora diminuía.
Voltei ao ponto de partida, e aquele senhor não estava mais lá. Soube que ali foi  a partida dele.
Arrepiei-me, quando soube. Deixei a bicicleta onde apanhei. Peguei uma caneta emprestada,
E deixei um bilhete, como fosse uma lápide.
Ali escrevi.

O amor e a franqueza andam juntos, ser sensível e honesto, a um só tempo, é possível. Obrigado.
Fui embora. Triste pelo acontecimento. Feliz pelo ensinamento, talvez o último daquele senhor.
Quiçá um dos mais importantes, que levarei por anos a fio.
Dei mais valor a minha semana cartesiana, mas aprendi que o tempero da desordem é essencial.
O vento de Paquetá ainda assobia em meus ouvidos, ainda raspa minha barba.

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