domingo, 25 de outubro de 2009

Cárcere

Estou preso
E o cárcere sou eu
Não tenho para onde fugir
Inúmeras vezes pergunto-me:
Quem sou?

Há centenas ao meu redor
Mas inexplicavelmente estou só
Fujo com os olhos da mente
Pois a boca, com palavras, mente
Enquanto os olhos fugitivos são sinceros

Minha fuga não tem destino
Mas será que quero, realmente?
Não sou quem sou, porque, agora, minto.
Mas volto a ser para ti, quando desminto
Porque, de você, não escondo meu sentimento

Porém, neste instante, alguém vem de lá
Com palavras, pseudamente, carinhosas
As quais chegam como afago feito à mão
E vou me enganar de novo
Nesta absoluta certeza: Minha escravidão.

sábado, 17 de outubro de 2009

Memórias de um cidadão comum

Esqueci de nascer, fui defenestrado do ventre materno e o mundo, sem pedir, ganhei. Para o qual vim sem choro tampouco risos. Esqueci de ser educado, cortês. Esqueci de aprender o português, menos ainda o inglês, entretanto aprendi volapuque. Esqueci de estudar, mas não de ganhar dinheiro e trabalhar. Esqueci um “por favor”, um “muito obrigado”, um “com licença”, pois isso não interessava. Esqueci da vida, mas não do dinheiro. Esqueci do próximo, do ser humano, porém jamais de mim. Esqueci de minha família, pais, irmãos e amigos, pois tinha meu salário, e ele era assaz. Esqueci da mulher e filhos, porque não precisava deles, bastava-me a orgia, e eles só me traziam gastos. Esqueci de amar, posto que, apenas, me interessava ganhar. Esqueci de esquecer o passado e notei o não esquecimento de mim, porque nunca fui ninguém/alguém, porém o pior quiçá tenha sido esquecer de morrer, mas talvez tenha sido por, no princípio, ter esquecido de nascer. Portanto, ainda, vivo e sobrevivo sem nada e alguém, contudo vou comprar o meu cigarro, pois dele nunca esqueci.

O egoísmo é marca daqueles que sequer se conhecem, e, muito provavelmente, por isso tenham medo de conhecer aos outros.

sábado, 10 de outubro de 2009

Vidas diferentes?

Ele e Ela foram gerados em um lugar, por deveras, insólito, mas de concepção normal ou leia-se, quando o pai e a mãe encontram-se um dentro do outro e, consequentemente, o outro dentro de um. E seus pais, neste caso, por mais bizarro que venha parecer, eram dois casais unidos pela amizade e furor da juventude e talvez por causa dela, tiveram a ideia, extremamente louca para alguns, de se mudarem para a natureza e lá viverem, somente, a custa dela, por um pequeno período. Entretanto, a ausência de distrações impelia aos casais para as mais antigas delas, e assim seria para o homem a mulher e para a mulher o homem, contudo sem as modernidades, e, portanto, sem contraceptivos, após nove meses, cada casal foi iluminado com uma nova vida, e quis o destino que viesse um homem e uma mulher. Por tanto, estes novos seres, concebidos dessa maneira diferente, assim foram crescendo, desconhecendo a civilização, modernidade, tempo, dinheiro, pontualidade, atraso, necessidades sociais, vergonhas, palavras deste tempo como: estresse, religião, dogmas, comandos Estatais e particulares, preconceitos, maldades, bondades fingidas, interesses para isto ou aquilo e, acreditem, sem Deus, logo sem pecados, culpas, perdões, penitências e indulgências religiosas. Pois este conceito divino e seus preceitos não puderam ser passados pelos seus descendentes, uma vez que devido a uma casualidade, destas comuns em todos os cantos ou esquinas, a vida dos dois casais progenitores foi tirada inopinadamente, assim como se diz, sem aviso prévio, de modo súbito.

Por conseguinte, aquelas crianças, um garoto e uma garota, então, ainda aprendiam a falar, descobriam as primeiras amostras gratuitas da vida, conquanto tão cedo conheceram o seu oposto, a morte. Todavia, pequenos demais para entenderem e também para morrerem, foram sobrevivendo um com o outro, destarte a se descobrirem desde cedo, a qual desta luz podemos fazer a ilação sobre o sentimento cultivado entre eles, e de fato foi o companheirismo arraigado e o amor mais entranhado que se tem notícias.

Eles, assim sendo sob o nosso ponto de vista, pecaram os prazeres corporais desde cedo, quando os hormônios começam a entrar em ebulição, acerca disto também ignoravam, apenas eram tomados pela vontade e escolhas não tinham. A saber, devemos que igualmente aos pais não duraram muito, e primeiro ela se foi e por dores de ausência, solidão, e coração, porém nele verdadeiro como nunca se foi no mundo, ele finou-se por saudades. E até hoje não sabemos se essa real história inventaram ou aconteceu. Do mesmo modo que não sabemos se morreram por castigo divino ou por que é da natureza um dia, cedo ou tarde, findar-se.

sábado, 3 de outubro de 2009

Não se vive mais...

“Me morro” todos os dias para poder viver ou, o mais aconselhável seria, sobreviver. Pois bem, uma de minhas infindáveis dúvidas, se não a maior, é essa se sobrevivo ou vivo, mas o sabido por mim e pelos outros é fazer inúmeras tarefas e trabalhos não apreciados e não bem quisto, por nós, para receber aquela quantia pecuniária ao término do mês. E quando este chega trazendo consigo o início do próximo e o salário, ficamos por momentos, inúteis, felizes, porque podemos comprar aquela roupa, aquele aparelho, aquela noite, aquele carro, aquela casa, e ainda aquela mulher (para uns) ou aquele homem (para outros). Ou seja, abreviamos nosso interesse em viver a fim de realizar desejos, somente, materiais e terrenhos, no mundo o qual todos são clientes e já não se é mais humano, tampouco cidadão, porém, claro está, há como sempre exceções, logo se considere do modo que bem entender, visto que não tenciono julgar ninguém, menos ainda em dividir, como se criou hábito na era contemporânea, nos errados e certos.

Portanto, ao sentir o vento gélido e feroz, da janela deste ônibus, reflito sobre a vida e pergunto-a se vale à pena sobreviver, se vale à pena “me morrer” cotidianamente, se vale a pena viver. A medida que, para mim, viver seria a harmonia plena de um dia de sol na praia e uma noite de luar as estrelas, entretanto mato-me, diariamente, fazendo algo não apetecido, a despeito de bastante aprendizado, mas espero a aposentadoria, pois nela almejo viver, no sentido cabal da palavra. Contudo, se “assassino-me” todos os dias para um dia, aquele restante, viver, talvez seja mais eficaz acreditar na sacrossanta igreja, a qual diz que ao morrer ascenderemos à vida eterna. Amém!