quarta-feira, 25 de março de 2009

Incoerência eu quero uma pra viver!

Desde nossas mais belas reminiscências ouvimos de pais, avôs e conselheiros mais íntimos: “Seja coerente com suas atitudes, pois só assim seremos respeitados, pois ela, a coerência, deve nos pautar a vida toda, ser formos incoerentes nos penalizarão, no futuro ou logo no presente, pelos erros cometidos.” Esses sermões nos envolvem quando pequenos e permeia nossa criação, até chegarmos à maturidade (?) do ser humano.

Posto isto, eu vos declaro: Incoerência eu quero uma pra viver! Então os mais antenados, seja no aspecto visual ou sonoro, dirão, este cidadão está a parodiar uma música, mais especificadamente Ideologia de Cazuza. Além, é claro, de dizer que atentou contra a moralidade e bons costumes sociais, de efeito essa ótica, não é?

No entanto, não ansiar-me-ei e apeteço o mesmo a vocês que passam seus olhos fadigados por essa palavras, explicarei aos poucos – pois nada de pressa é sadio, e as melhores coisas da vida, consoante ao empirismo, fazemos devagar – o meu ponto de vista, no qual para muitos é horripilante e de extrema ignorância!

Vamos, analisando os fatos sucedidos nas últimas semanas e bombardeados Brasis afora. A igreja, instituição secular e imaculada – pergunto-me até onde – procedeu com perfeita coerência ao excomungar uma menina de nove anos, – diga-se de passagem, estuprada pelo padrasto desde os seis anos - sua mãe e o médico, pois foram agentes atuantes no aborto desta jovem, e aos olhos do Clero o aborto – tal qual o uso da camisinha, esta com intuito de combater a proliferação de doenças sexualmente transmissíveis – é proibido, é inaceitável, uma vez que agride aos dogmas religiosos, mesmo que esses tenham sido concebidos há algumas décadas ou séculos. Em virtude disso, não podemos contestar de modo algum o clérigo, foram inteiramente coerentes, todavia devemos perguntar por que cargas d’água o padrasto – o ser causador do problema, nem entraremos no mérito da agressão física, moral e todas as outras a um ser humano, e ainda mais a uma criança – não foi excomungado. A resposta, para esta busílis, por mais que parece complicado é notória, porquanto os sacerdotes alegarão estar a cargo da justiça dos homens os meios de penalizar este crime hediondo, ou seja, mais uma vez prezando pela, indiscutível, coerência, e assim isentando-o de qualquer, injusta, excomunhão. E estão certos, pois se excomungarem todos os estupradores ou pedófilos, decerto, faltarão oradores designados a nos transmitir a palavra divina.

Agora, desta semana, vejamos com acuro as circunstâncias transcorridas pela violência carioca – antes de tudo, deixemos claro esta violência não ser exclusividade da metrópole carioca, senão, infelizmente, é inerente ao país e, por que não, aos países de uma forma geral – e relacionando a esta coerência tanto proferida nas linhas acima.

Está na constituição, não me pergunte ao artigo, pois não ingressei na faculdade de Direito ainda, que o usuário – deixemos cá um apêndice dizendo que somente traficante e analista de sistema não têm clientes, e sim, usuários – de drogas não é criminoso e apenas o vendedor o é. Assim, sem incoerência, a sociedade pleiteia o fim da criminalidade, o término do tráfico, o principiar da paz, são lindas essas palavras em meio a um “pipoco” e outro – Graças a Deus, não tão certeiros quanto intensos – que colorem a paisagem. Se pusermos a raciocinar, convenhamos a falta de costume de fazê-lo do ser contemporâneo, iremos perceber sutilmente nas linhas transcritas acima algo notável, como pode o vendedor ser criminoso e o comprador não ser – não tenho nada contra o usuário, muito pelo contrário, porque inúmeros amigos meus usam e não deixaram de ser por isso, tal qual espero que não deixem de ser após conhecerem meu pensamento sobre, nas alíneas vindouras – e enquanto um responde processo marginalizado o outro é tratado de forma colérica. Porém, a coerência existe independente se certa ou errada – a partir do seu ponto de vista – no modo de agir do governo, pois cumprem, rigorosamente, o determinado na lei. Assim, todos agem de maneira ímpar, singular, presidencial, já que sabem e dizem desconhecer, bem do jeitinho brasileiro, como uma verdadeira república das bananas.

Portanto, agora, elucidarei brevemente minha análise sobre a questão, na qual reconheço ser delicada, contudo não fácil como profanam e tampouco difícil como se parece – depende da ação incomum, no Brasil, dos governantes – acerca do assunto. Desde já, divido a solução - muitos dirão ser uma resolução infantil, mas se lembrarmos bem as crianças tem por hábito esclarecer de modo mais justo e prático que nós adultos - em dois planos diametralmente opostos, um seria a legalização e outro a criminalização do usuário. O primeiro mostra-se delicado e morre ao nascer, pois tangencia interesses latentes e bate na porta de forças ocultas, e como nossos pais nos ensinaram, não devemos brincar com fogo a fim de manter nossa cama seca. Ainda sobre esse ponto, move a hipocrisia da sociedade brasileira, pelas próprias leis e valores pré-concebidos, mas se nos serve de consolo, todas as outras também as são. Uma vez que essa, nossa sociedade, no píncaro do moralismo não deixaria ocorrer, e se mais um apêndice fizermos, notaremos ter sido este o fator primordial da luta pelo impeachment do Collor, mas isto é passado e, para todo bom brasileiro, não interessa. O segundo, se o um é oito este é oitenta, denota-se da criminalização do usuário, objetivando enforcar aos poucos o sistema, em virtude do famoso axioma do capitalismo, o qual diz ser impossível qualquer negócio, na acepção original da palavra, ser realizado sem comprador ou com ele restrito a uma ínfima minoria. Na última oração me desculpem a redundância, sobre a última opinião idem – visto que tal qual a primeira morre ao nascer, porque esbarra em forças ocultas – pois se trata da mais ignorante das incoerências. E como “no princípio, agora e sempre” devemos respeitar os mais velhos e seus sábios conselhos, logo sejamos coerentes e não falamos mais nisso.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Conversão de sentimentos

Apenas nós seres humanos, meros mortais, que somos, e julgamos ser donos das verdades – sejam elas relativa ou absoluta – conseguimos executar com exatidão e raríssima perfeição o que chamo de conversão de sentimentos. Porquanto ao estarmos cansados, tristes, lúgubres, magoados, em total prostração, ainda sim temos o dom de dissimular, temos o dom de nos simular em nós uma fortaleza inexistente – e incoerente – em qualquer ser vivo, contudo para não expor nossas fraquezas íntimas e sentimentais aos nossos iguais, fingimos – algo que fazemos muito bem – estar saudáveis e fingimos também estar "tudo as mil maravilhas". Enquanto, na verdade, somos corroídos por dentro, tanto pela dor quanto agora pela mentira nossa, a qual omite o padecimento.

Essa atitude, agora, contesto. Por quê? A resposta é simples, no entanto tem bifurcações, uma conta-se do nosso preciosismo e prepotência – e por mais humilde que sejamos, ainda assim temos algum desses defeitos – os quais impedem de transparecer a nossa essência para os outros, aliando nesses, ainda, o medo. A outra se revela de forma silenciosa, e nada mais é do que nosso inconsciente, ou seja, a vergonha de demonstrar nossa fraqueza real, perante a fortaleza – mesmo momentânea - alheia, uma vez que todos nós ora somos fortes, ora somos fracos e para esconder tal situação usamos a conversão de sentimento, característica única e exclusiva de nós seres humanos.

Portanto, se crê que aja necessidade, chore, desabafe e não se importe como e por que irão te julgar, pois o seu julgador de hoje, será, fatalmente, o infeliz de amanhã. Assim, confie em alguém, converse com amigos, podem ser poucos ou muitos – independentemente de números, deve haver confiança neles – mas eles irão auxiliar, porque se nas vitórias nossos amigos nos conhecem, são nas derrotas que conhecemos nossos amigos.