domingo, 16 de dezembro de 2018

O cotidiano...


Eles trocam olhares, olhares sinceros, mas discretos, não podem passar disso. Se beijam nesses olhares, se abraçam e se cumprimentam com os olhos, em meio a uma multidão que é incapaz, seja pela discrição deles, seja por que às pessoas perderam a capacidade de entender o afeto, de notar o carinho e o "feeling" entre eles. Ela com um simples sorriso ilumina o dia dele como o sol de meio-dia e preenche o espírito dele como a lua cheia em plena meia-noite do verão carioca; ele, segundo ela, dá alegria ao dia dela, traz felicidade quando menos se espera, seja pelo seu jeito, seja pelo perfume dele que penetra nas profundezas d'alma dela, e ela mesmo sem um olfato apurado é capaz de perceber a presença dele, ainda que ele esteja ausente pelos corredores.
Assim, no silêncio cotidiano, eles se beijam com olhares, se abraçam com singelos apertos de mão, se notam na singularidade quando se cruzam pelos corredores; a multidão, por outro lado, fala, grita, se comunica por todos os meios de comunicação, mas esta multidão é incapaz de perceber e interpretar o silêncio que fala, o silêncio que beija, o silêncio que se expressa. É, apenas, mais um caso em que a multidão e o som se emudecem face a comunicação aguda, singela e profunda de olhares. É o curioso caso em que o silêncio fala mais, em quantidade e em qualidade, do que a multidão. Para muitos, somente, mais um caso de amor, para eles é um sentimento terno, tenha o nome que for.