Eles trocam olhares, olhares sinceros, mas
discretos, não podem passar disso. Se beijam nesses olhares, se abraçam e se
cumprimentam com os olhos, em meio a uma multidão que é incapaz, seja pela
discrição deles, seja por que às pessoas perderam a capacidade de entender o
afeto, de notar o carinho e o "feeling" entre eles. Ela com um
simples sorriso ilumina o dia dele como o sol de meio-dia e preenche o espírito
dele como a lua cheia em plena meia-noite do verão carioca; ele, segundo ela,
dá alegria ao dia dela, traz felicidade quando menos se espera, seja pelo seu
jeito, seja pelo perfume dele que penetra nas profundezas d'alma dela, e ela
mesmo sem um olfato apurado é capaz de perceber a presença dele, ainda que ele
esteja ausente pelos corredores.
Assim, no silêncio cotidiano, eles se beijam com
olhares, se abraçam com singelos apertos de mão, se notam na singularidade
quando se cruzam pelos corredores; a multidão, por outro lado, fala, grita, se
comunica por todos os meios de comunicação, mas esta multidão é incapaz de
perceber e interpretar o silêncio que fala, o silêncio que beija, o silêncio
que se expressa. É, apenas, mais um caso em que a multidão e o som se emudecem
face a comunicação aguda, singela e profunda de olhares. É o curioso caso em
que o silêncio fala mais, em quantidade e em qualidade, do que a multidão. Para
muitos, somente, mais um caso de amor, para eles é um sentimento terno, tenha o
nome que for.
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